Condições químicas dos horizontes subsuperficiais de solos para manejo
H. do Prado (1); A. C. M. Vasconcelos1; M. G. A. Landell (1)
Os atributos químicos de soma de bases, saturação por bases e saturação por alumínio na camada sub superficial refletem o ambiente que interfere no desenvolvimento radicular em profundidade das plantas, além de serem considerados na classificação de solos. A deficiência de cálcio e a toxicidade de alumínio são os principais fatores limitantes na produtividade das culturas (RICHEY, 1980). Os valores de saturação por bases menor que 50% no horizonte subsuperficial são muito amplos, conforme destacado no quadro 1, e com conseqüência os teores de cálcio e alumínio variam significativamente.
Em solos tradicionalmente enquadrados como distróficos pela EMBRAPA (1999), LANDELL et al. (2003) verificaram que a condição química do horizonte sub-superficial foi determinante da produtividade da cana-de-açúcar, ampliando essa correlação com o avançar dos cortes.Esses autores qualificaram como solos distróficos 1 quando os valores de saturação por bases se aproximavam dos solos eutróficos (que são aqueles com valores de saturação por bases maior que 50%) e de distróficos 2 quando mais afastados do eutrofismo.
Observando várias análises químicas pedológicas verificou-se, ainda, que há a necessidade de estabelecer a classe de solos distróficos 3, que limita-se com a dos solos álicos (que são aqueles com saturação por alumínio maior que 50%). O quadro 1 apresenta os critérios químicos subsuperficiais dos solos distróficos (EMBRAPA, 1999).
Quadro 1
Solo | V1 | RC2 | M1 |
Distróficos | <50 | >1,5 | <50 |
1: g.kg-1 - ² cmol.kg-1 de argila
Os dados dos quadros 2 e 3 consideram a seguinte subdivisão química do horizonte B: distróficos 1 (saturação por bases variando de 30-50% e ao mesmo tempo a saturação por bases é maior ou igual a 1,2 cmol.kg-1: caráter mesotrófico); distróficos 2 (saturação por bases varia de 30-50%, entretanto a soma de bases é menor que 1,2 cmol.kg-1, ou ainda a saturação por bases menor que 30%, e ao mesmo tempo teor de alumínio é menor que 0,4 cmol.kg-1: caráter distrófico), e distróficos 3 (a saturação por alumínio varia de 20-50% e ao mesmo tempo o teor de alumínio trocável é maior ou igual a 0,4 cmol.kg-1 de solo: caráter mesoálico). Nesses quadros constam os valores médios (X), o desvio padrão (S), e valores mínimos e máximos de saturação por bases (V), soma de bases (SB), cálcio (Ca2+), saturação por alumínio (m) e alumínio trocável (Al3+) da camada sub superficial de 50 amostras de Latossolos Vermelhos férricos (anteriormente Latossolos Roxos, CAMARGO et. al., 1987) e 63 amostras de Latossolos Vermelhos não férricos (anteriormente Latossolos Vermelhos Escuros, CAMARGO et al., 1987).
Quadro 2. Dados estatísticos dos atributos químicos de sub superfície dos Latossolos Vermelhos férricos.
Atributos | Solos | ||||||||
X | S |
Valor mínimo e máximo | |||||||
LVdf-1 | LVdf-2 | LVdf-3 | LVdf-1 | LVdf-1 | LVdf-3 | LVdf-1 | LVdf-2 | LVdf-3 | |
V1 | 39,0 | 31,0 | 22,0 | 6,0 | 6,2 | 8,1 | 30,0 - 48,0 | 23,0-41,0 | 13,0 - 28,0 |
SB2 | 1,7 | 1,0 | 1,0 | 0,4 | 1,0 | 0,4 | 1,0 - 3,0 | 0,8 - 1,1 | 0,7 - 1,5 |
Ca2 | 1,1 | 0,6 | 0,5 | 0,3 | 0,1 | 0,2 | 0,8 - 1,8 | 0,5 - 0,7 | 0,2 - 1,0 |
m1 | 8,0 | 10,0 | 36,0 | 5,6 | 6,6 | 10,3 | 0 - 16,0 | 0 - 22 | 20,0 - 46,0 |
Al2 | 0,2 | 0,1 | 0,7 |
0,1 | 0,1 | 0,1 | 0 - 0,3 | 0 - 0,2 | 0,4 - 0,8 |
1: g.kg-1 - 2; cmol.kg-1 de argila
Quadro 3. Dados estatísticos dos atributos químicos de subsuperfície dos Latossolos Vermelhos não férricos.
Atributos | X Solos |
S Solos |
Valor
mínimo e máximo Solos |
||||||
LVd-1 | LVd-2 | LVd-3 | LVd-1 | LVd-1 | LVd-3 | LVd-1 | LVd-2 | LVd-3 | |
V1 | 41,0 | 25,0 | 8,0 | 4,8 | 11,1 | 8,1 | 35,0 - 49,0 | 11,0 - 41,0 | 5,0 - 40,0 |
SB2 | 1,7 | 0,7 | 0,9 | 0,5 | 0,3 | 0,4 | 1,2 - 2,8 | 0,1 - 1,1 | 0,4 - 1,1 |
Ca2 | 1,2 | 0,4 | 0,6 | 0,4 | 0,2 | 0,2 | 0,8 - 2,0 | 0,3 - 0,7 | 0,2 - 0,8 |
m1 | 5,0 | 22,0 | 38,0 | 5,5 | 13,3 | 10,3 | 0 - 19,0 | 0 - 36,0 | 8 - 49,0 |
Al2 | 0,1 |
0,2 | 0,6 | 0,1 | 0,1 | 0,1 | 0 - 0,3 | 0 - 0,3 | 0,4 - 0,9 |
1: g.kg-1 - 2; cmol.kg-1 de argila
Os valores mínimos e máximos de cálcio foram de 0,2 a 1,8 cmol.kg-1 (quadro 2) e 0,2 a 2,0 cmol.kg-1 (quadro 3). Os níveis de alumínio foram também muito contrastantes porque os valores mínimos e máximos foram de 0,0 a 0,8 (quadro 2) 0,0 a 0,9 cmol.kg-1 (quadro 3). Os teores médios de cálcio oscilaram de 0,5-1,1 cmol.kg-1 (quadro 2) e 0,6-1,2 cmol.kg-1 (quadro 3).
Quando considerada a nossa subdivisão proposta os valores médios de cálcio e alumínio foram discriminados nas seguintes magnitudes: 1,1 cmol.kg-1 de cálcio e ao mesmo tempo 0,2 cmol.kg-1 de alumínio nos solos mesotróficos; 0,6 cmol.kg-1 de cálcio e 0,1 cmol/kg de alumínio nos distróficos, e 0,5 cmol.kg-1 de cálcio e 0,7 cmol.kg-1 de alumínio nos solos mesoálicos (quadro 2).
No quadro 3 foi observada a mesma tendência, pois nos solos mesotróficos os valores médios encontrados foram de 1,2 cmol.kg-1 de cálcio e ao mesmo tempo 0,1 cmol.kg-1 de alumínio, nos distróficos os valores médios de cálcio foram de 0,4 cmol.kg-1 e ao mesmo tempo 0,2 cmol.kg-1 de alumínio, e finalmente nos mesoálicos 0,6 cmol.kg-1 de cálcio e ao mesmo tempo 0,6 cmol.kg-1 de alumínio.
Desse modo ficou demonstrada a sensibilidade do novo critério para identificar a grande variabilidade dos dados químicos dos solos tradicionalmente considerados como distróficos (EMBRAPA, 1999).
Conclui-se que o critério proposto discrimina os níveis de cálcio e alumínio na camada sub superficial, permitindo o manejo mais racional dos solos, contribui para melhor entender a variabilidade espacial dos aspectos químicos estudados, especialmente na agricultura de precisão e também contribui para as futuras aproximações do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos da EMBRAPA.
Em 1999 como nossa contribuição enviamos a EMBRAPA/SOLOS a sugestão para se rever os conceitos atuais e considerar a adjetivação de mesotrófico. Enquanto decide-se pela sua adoção ou não, adotamos rotineiramente esse conceito no nosso trabalho pedológico diário, pois na escolha da variedade de cana-de-açúcar dele depende-se muito.
Referência bibliográfica
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação ília. 1999. 412p.
LANDELL, M.G.A.;PRADO, H.;VASCONCELOS, A.C.M.; PERECIN,D.; ROSETTO, R.R.; BIDóIA, M.A.P.; SILVA;M.A.; XAVIER.M.A. Oxisol subsurface chemical related to sugarcane productivity. Scientia Agrícola, Piracicaba, v.60, n. 4, p. 741-745, 2003.
RITCHEY,K.D.; SILVA,J.E. & SOUZA, D.M.G.. Relação entre teor de cálcio no solo e desenvolvimento de raízes avaliado por um método biológico. R. bras. Ci Solo 7: 269-275. 1983.
(1) Pesquisador Científico, Instituto Agronômico, Centro de Cana IAC, C.P. 206, CEP: 14001-970, Ribeirão Preto, SP.