Solos ideal, existe?
A interação positiva dos aspectos físico-hídricos e químicos dos solos é decisiva para qualificar um ambiente de produção. Considerando as características dos diversos solos do Brasil podemos qualificá-los (ou desqualificá-los) em termos de ambientes de produção.
Os Latossolos, que predominam no Brasil, apresentam limitação de disponibilidade hídrica. Esses solos, que apresentam teor de argila uniforme ao longo do perfil ressecam facilmente, e até mesmo os ácricos apesar de serem muito argilosos. Esses solos ácricos ocorrem nas regiões de Brasília, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Triângulo Mineiro, e nordeste do Estado de São Paulo.
Além da importância da água nos ambientes de produção, consideramos em segundo lugar os dados químicos de saturação por bases (V%) saturação por alumínio (m%) e retenção de cátions (RC) do horizonte subsuperficial, e CTC da camada arável. O projeto Ambicana do Centro de Cana do IAC tem nos permitido encontrar grandes áreas de solos eutróficos ao mesmo tempo ressecados. Desse modo, apesar de eutróficos, esses solos afastam-se da condição ideal por causa da forte limitação hídrica. Tais solos ocorrem nos topos aplainados da região oeste paulista e os enquadramos no ambiente de produção C2, mesmo sendo eutróficos. Portanto, temos de um lado os Latossolos ressecados eutróficos de "textura mais leve" como tambem os Latossolo ácricos de "textura pesada".
Nos dos tabuleiros costeiros do nordeste do Brasil há outras limitações para os Latossolos:o adensamento abaixo da camada arável, prejudicando o enraizamento subsuperficial, e a limitação química (distróficos ou álicos). Os Argissolos (Solos Podzólicos Tb) quando não são degradados e com horizonte B relativamente próximo da superfície disponibilizam água disponível às plantas por um tempo mais longo devido à diferença de argila entre as camadas superficial (horizonte A) e subsuperficial (horizonte B). Essa diferença de argila é responsável pela quebra de capilaridade entre essas camadas.
Existe, uma grande variação morfológica de espessura do horizonte A arenoso, pois os totalmente degradados pela erosão apresentam a camada superficial erodida e aqueles com a camada superficial preservada podem atingir espessuras da ordem de até 100 cm. Quando o horizonte B ocorre relativamente próximo da superfície, a cana-de-açúcar utiliza a água dessa camada por um tempo muito maior do que quando o referido horizonte esté mais profundo no perfil. Quando o horizonte A arenoso é muito espesso a cana-de-açúcar seca muito rapidamente.
Na usina Bonfim, em Guariba (SP) constatamos a ocorrência do Argissolo com perda total do horizonte superficial. Esse solo teve significativa diminuição de produtividade em relação ao não degradado porque a ausência do horizonte A eliminou a referida quebra de capilaridade, tornando-o muito ressecado. Em resumo, quando nos referimos aos Argissolos precisamos saber em que profundidade inicia-se o horizonte B que é aquele que supre a água para as plantas.
Os Argissolos com horizonte B próximo de 50 cm disponibilizam água por mais tempo do que os Latossolos de qualquer textura, entretanto o contrário ocorre quando o horizonte B do Argissolo inicia-se a 100 cm de profundidade assemelhado-se a mesma limitação dos Neossolos Quartzarnicos (Areias Quartzosas). Em comum todos os Argissolos apresentam grande suscetibilidade a erosão.
Os Luvissolos (Solos Podzólicos Ta, eutróficos) apresentam alta saturação por bases (V%), mas é erosivo, principalmente quando apresenta grande diferença de argila entre os horizontes A e B. Se ao contrário, a distribuição de argila for discreta entre os horizontes A e B, quando subsolados logo voltam a condição original de acentuada dureza porque são adensados abaixo da camada arável. Analisando especificamente o Argissolo com média/alta disponibilidade de água (horizonte B próximo de 40-50 cm de profundidade), alta saturação por bases (eutrófico) e com valor médio/alto de CTC na camada arável ainda não enquadramos como "solo ideal" porque émuito suscetível a erosão.
Os Nitossolos Vermelhos eutroférricos (Terras Roxas Estruturadas) mesmo com adequada disponibilidade de água são erosivos porque ocorrem em locais declivosos. Tais solos tem maior ocorrência na região sudeste do Brasil, especialmente no Paraná.
Os Plintossolos possuem como maior restrição a reduzida profundidade efetiva, pois as raízes encontram barreira física para crescer, secam rapidamente após uma chuva e são erosivos. Na região amazônica e no Estado de Tocantins ocorrem as maiores áreas desses solos. Os Neossolos Litólicos (Solos Litólicos) também são muito rasos, por isso assemelham-se aos anteriores nas suas limitações e ocorrem em todos Estados brasileiros.
Os Neossolos Quartzarênicos (Areias Quartzosas) possuem, ao mesmo tempo todas essas limitações: reduzida disponibilidade de água, baixos teores de matéria orgânica e nutrientes e são muito erosivas.Esses solos tem maior ocorrência nas regiões centro-oeste e sudeste do Brasil.
Os Vertissolos comuns na região nordeste possuem valores elevadíssimos de saturação por bases, mas nem por isso são ideais, pois possuem más propriedades físicas e quando são salinos e sódicos são mais limitantes ainda. Se fosse considera, isoladamente, a elevada saturação por bases o Vertissolo salino seria enquadrado no melhor ambiente de produção (A2), mas esse não produz suficientemente justificar esse ambiente de produção.
Na usina Agrovale, em Juazeiro (BA) verificamos que a produtividade de cana-de-açúcar é menor nos Vertissolos do que nos Argissolos eutróficos. Isso comprova que o caráter eutrófico, isoladamente, não é decisivo para caracterizar o melhor ambiente de produção. Em outras palavras, o caráter eutrófico é condição necessário, mas totalmente insuficiente para representar o melhor ambiente de produção.Quando salinos e sódicos enquadramos esses Vertissolos no ambiente de produção mais restritivo (E2) porque a salinização compromete seriamente a produtividade, e a sodificação (alta saturação por sódio) é responsável pela reduzida porosidade (más condições físicas).
A CTC elevadíssima é outra característica dos Vertissolos, logo é acentuada a capacidade de reter cátions. Outro aspecto é a reduzida condutividade hidráulica desses solos, o que provoca acúmulo prolongado de água nas camadas mais superficiais. Desse modo, a água ocupa os espaço porosos do oxigênio, e a falta de O2 prejudica a ação da estimulação enzimática formadora do etileno, comprometendo o melhor efeito de maturadores da cana-de-açúcar.
Os Chernossolos, que ocorrem principalmente nas região sul brasileira, são muito ricos, mas muito erosivos devido o declive acentuado, e da mesma forma que os Vertissolos não devem ser subsolados porque são adensados, ou seja a dureza do solo é genética e não provocada pelas máquinas. A CTC embora menor aproxima-se dos Vertissolos.
Os Cambissolos, que geralmente ocorrem em locais declivosos são muito erosivos. Se forem eutróficos possuem alto potencial de produtividade desde que a água disponível seja favorável. Temos encontrados grandes áreas desses solos na usina Itaiquara na região de Passos (MG).
Os Neossolos Litólicos tem como grande limitação a sua reduzida espessura que na prática significa reduzida disponibilidade de água. Por isso observamos nos meses de abril-agosto matas com poucas folhas nos Neossolos Litólicos eutróficos.
Os Espodossolos são arenosos ao longo do perfil por isso tem limitação hídrica. Quando possuem fragipã ou duripã a profundidade da ordem de 50 cm a disponibilidade de água aumenta porque esses horizontes acumulam água por mais tempo do que se não ocorressem. Originalmente tais solos possuem limitação química no horizonte B, e na paisagem ocorrem nos tabuleiros costeiros da região nordeste, ou próximos ao mar.
Os Planossolos das encostas são comuns no nordeste brasileiro tem como principal problema a alta suscetibilidade a erosão e as más condições físicas do horizonte B em função da elevada saturação por sódio (baixa porosidade na camada subsuperficial) e o risco frequente de inundação quando ocorrem nas planícies aluviais.
Finalmente resta analisar os solos com contínua disponibilidade de água durante todo ano: Planossolos que ocorrem nas planícies aluviais e Gleissolos. As seguintes limitações desqualificam tais solos de várzeas como "ideais":
- Frequente risco de inundação;
- Aeração deficiente (ficam permanentemente encharcados devido ao nível elevado do lenól freático);
- Baixo potencial nutricional (em geral são distróficos ou álicos);
- Necessitam de drenagem, o que tem alto custo.
Portanto, o solo ideal inexiste, aproxima-se da condição ideal somente aquele com disponibilidade hídrica, propriedades físicas e químicas adequadas, e pouco erosivo, simultaneamente.